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Tudo isto se desenvolve a partir de outro olhar sobre a vida,
mais esperança, mais qualidade, mais bem-estar… Em que
se traduz este avanço?
Na terapêutica, nos cuidados de saúde, o avanço é enorme.
O que nos falta realmente é conseguir abolir o estigma e a
discriminação em relação às pessoas infetadas. Essas pessoas
continuam com medo da sociedade, ainda não revelam o seu
estado de saúde, não o conseguem no local de trabalho, entre
os amigos, o que naturalmente confere à infeção por VIH a
dimensão de uma doença diferente. Este é o último passo.
Porque a qualidade de vida tem a ver com a saúde física,
mental, social… E nesse sentido, temos de ultrapassar este
derradeiro obstáculo. Mas, em boa verdade, ainda estamos
muito longe de lá chegar.
Este é o seu fio de prumo, uma interiorização, uma entrega
absoluta…
Sim, há trinta e muitos anos. Eu tenho vivido a vida das
pessoas, elas envelhecem comigo. Portanto, a minha
experiência é a de seguir as suas vidas, desde o momento em
que tenho de dar-lhes a notícia, em que muitas vezes pensam
logo no fim, na morte, até ao momento em que, felizmente,
percebem que, afinal, existe um tratamento eficaz. E que,
juntos, teremos de lidar com a infeção como qualquer doença
crónica. E, a partir daí, tratá-las durante toda a vida.
Entretanto, somos, pelas piores razões, confrontados com
altos índices de iliteracia, o desconhecido… Nota que houve
um desinvestimento nas mensagens sobre quem vive e
convive com o VIH?
As mensagens sobre o VIH pararam. Já não são notícia, já não
fazem manchetes. Pura e simplesmente, deixou de falar-se
no vírus. Aquilo que eram as mensagens-chave da prevenção
saíram de cena, do espaço mediático. E isso acontece até nas
escolas – pelo menos, na necessidade de estar alerta contra a
infeção. É evidente que estamos perante uma doença crónica,
para a qual existe tratamento; mas se não apostarmos na
prevenção tendo por suporte um diálogo contínuo, vão surgir
naturalmente novos casos. Do meu ponto de vista, falhámos
redondamente nas campanhas de prevenção. E trata-se de
um pilar fundamental para evitar a propagação desta outrora
pandemia, hoje… epidemia. Conseguimos tratamento para
todos, foi uma das nossas vitórias, mas fica aquém, não chega.
Há que voltar atrás e pensar na educação, na prevenção, desde
o início da idade sexual. Temos de estar atentos aos mais
novos, precisamos de continuar este esforço de aviso, de alerta,
regular e repetidamente.
A seropositividade envolvendo pessoas mais velhas também
espelha essa saída de cena, a divulgação quase inexistente
de mensagens tão necessárias?