30 ANOS APECS
Um editorial, um discurso
e outras palavras
A SIDA foi ultrapassada por outras
realidades em saúde mediaticamente
mais relevantes, mais
recentes, e perdeu a visibilidade
da preocupação. Tive a oportunidade de
escrever esta nota de constatação, já na
primeira década deste século, num editorial
da Revista Portuguesa de Doenças Infecciosas.
Estávamos a meio do percurso que
nos trouxe até aqui.
Tive a honra e o gosto de presidir à Direção
da APECS durante dois mandatos, entre
2005 e 2008.
“Os passos dados foram importantes e merecem
ser, mais do que continuados, alargados,
conduzindo a APECS mais longe no
contributo para o estudo clínico da SIDA em
Portugal, objetivo capital que a norteia e que
lhe dá nome”, era reconhecido à época e
sublinhado no programa de candidatura à
liderança da APECS. Naturalmente que foi
um processo de continuidade que determinou
o futuro imediato.
Já tinha sido percorrido um caminho,
com resultados significativos; identificar o
agente, perceber o modo de transmissão,
conhecer melhor e mais longe a doença,
para evitar ou melhorar as consequências
do prognóstico numa infeção/doença que
rapidamente se identificou como decorrente
de comportamentos e modo de vida
e a que se somou o conhecimento da sua
extensão planetária, obrigou a investigação,
nas suas múltiplas vertentes, a dar
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passos de gigante.
Muito fora feito, mas muito caminho de
preocupação e incerteza estava pela frente.
Fora publicado na altura um relatório do
Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência
que colocava o nosso país
no péssimo 1.º lugar, numa Europa a 25,
não só da prevalência da Infeção VIH, como
também da infeção VIH, mediada pela partilha,
na utilização de drogas endovenosas.
Um outro relatório, o relatório da UNAIDS
2006, estimava que podiam viver com o
VIH/SIDA, em Portugal, cerca de 32 000
indivíduos, num intervalo de incerteza aonde
a variação mais trágica poderia chegar
aos 53 000 casos.
Assumindo que é mais fácil criar comportamentos
do que modificar comportamentos,
a tónica na prevenção foi sublinhada,
repetida e ampliada, vezes sem conta.
Procurou criar-se comportamentos seguros.
Contudo, a aparente desconformidade
entre a mensagem de prevenção que era
profusamente transmitida e a perceção que
o público-alvo tinha dela, assente, segundo
Meliço-Silvestre, “numa iliteracia crónica,
que teima em se arrastar”, colocava o
País num patamar de alerta vermelho da
preocupação.
Contudo, sem margem para dúvidas e neste
contexto, afirmávamo-nos como país do
Primeiro Mundo; “queremos poder afirmar
que o diagnóstico, prescrição e seguimento
continuado dos indivíduos infetados pelo
VIH/SIDA, se processam de acordo com as
normas de boas práticas”.
DR. ANTÓNIO VIEIRA
Presidente da APECS
2005-2008