
37
O primeiro objetivo da APECS foi, justamente,
a organização de um Congresso
para apresentar, discutir e propor soluções
para os problemas enunciados nos
seus Estatutos:
– Envolvimento dos cuidados de saúde
primários (CSP);
– Envolvimento dos Hospitais Distritais;
– Envolvimento de todas as Especialidades
médicas, dado que a SIDA não poupava
nenhum órgão ou sistema;
– Participação dos Centros nos ensaios
clínicos que testavam novas terapêuticas;
– Incentivos para sensibilizar os profissionais
de saúde envolvidos no tratamento
da SIDA;
– Criação de estruturas adequadas para
isolamento de coinfeção com tuberculose;
– Criação de centros de acolhimento para
doentes sem condições socioeconómicas,
tendo em vista a obtenção de alta após a
hospitalização.
E, finalmente, financiamento especial para
a SIDA como nova entidade nosológica,
considerando que não tinham sido previstos
os enormes custos: humanos, de
pessoal; do uso de material descartável;
além do tratamento das infeções oportunistas
e dos tumores associados, como o
Sarcoma de Kaposi.
1.º CONGRESSO NACIONAL SOBRE SIDA
A 26 de abril de 1993, tendo como cenário
a antiga FIL, em Lisboa, realizou-se
1.º Congresso Nacional sobre SIDA, associado
ao Simpósio Internacional Sobre Infeção
pelo VIH2, este último dirigido pela
figura incontornável do saudoso Dr. José
Luís Champalimaud.
O Congresso teve um êxito notável. Inscrição
de mais de 1.300 participantes. E
enorme impacto mediático A mesa da
sessão inaugural era constituída pelas
seguintes individualidades: presidente da
Câmara Municipal de Lisboa (Dr. Jorge
Sampaio), ministro da Saúde (Dr. Arlindo
de Carvalho), coordenadora da Comissão
Nacional de Luta Contra a SIDA (Prof.ª
Doutora Odette Ferreira), bastonário da
Ordem dos Médicos (Dr. Santana Maia)
e eu próprio, que tive a honra de ler uma
mensagem do então Presidente da República,
Dr. Mário Soares.
Quero registar que, para uma associação,
a APECS, criada na altura, sem recursos
nem verbas de tesouraria – pelo que até
tinha sede no meu domicílio – foi uma
proeza temerária. Estávamos a organizar
um evento que, à partida, ‘só’ para o aluguer
da FIL custaria qualquer coisa como
5 milhões de escudos (ou 5 mil contos,
utilizando a linguagem corrente desses
tempos). Era (mesmo) muito dinheiro.
Naquele concorrido primeiro evento, foram
amplamente apresentados e discutidos
progressos no tratamento da SIDA,
das infeções oportunistas, na luta contra
a discriminação e leis de proteção de dados
pessoais. Passados 30 anos, a situação
da infeção por VIH é absolutamente
uma nova realidade. A doença, embora
incurável, tem um tratamento com uma
panóplia de fármacos envolvendo diversos
mecanismos de ação, antivírus potentes e
eficazes e com menos efeitos acessórios.
Lembro que o tratamento eficaz-base era,
de início, uma combinação de distintos fármacos
de mecanismo de ação, também
eles, diferentes. O progresso foi tal, que as
terapêuticas iniciais obrigavam os doentes
a tomar cerca de 30 comprimidos por dia;
fármacos mal tolerados, além de que muitos
doentes não tinham adesão às pautas
de prescrição.
INOVAÇÕES NA FARMACOLOGIA E NA
BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR
Em contraste, atualmente recomenda-
-se a biterapia com os dois componentes
numa toma diária. A infeção pelo VIH
tornou-se uma doença crónica com um
tratamento que se pode prolongar por
dezenas de anos. Ainda que, infelizmente,
através de medicamentos dispendiosos e
inacessíveis à grande maioria dos doentes
existentes no mundo.
Deve-se, acima de tudo e por justo, reconhecer
que o combate contra a infeção
pelo VIH alterou mentalidades. Ao atingir
A APECS sempre
procurou estimular
as investigações sobre
a infeção pelo VIH e
divulgar os sucessivos
progressos e avanços
no tratamento.
E assim deve continuar
para bem de todos
os pacientes em
risco, seropositivos,
trabalhadores
da saúde e a nossa
sociedade em geral