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vista do sucesso terapêutico. Por um lado, foi bom fazermos
consultas telefónicas a muitos dos nossos doentes que
estavam isolados, confinados, e esse isolamento pode ainda
vir a ter reflexos problemáticos, nomeadamente no registo de
recaídas, ao nível do álcool, em falhas de medicação... E ainda
que este cenário esteja um pouco para além das fronteiras
de intervenção da APECS, na sua dimensão científica, é justo
assinalar que houve sempre a preocupação de acompanhar e
seguir de perto estas questões. Em especial no que toca ao
estabelecimento de prioridades, para que a pessoa que vive
com VIH estivesse na primeira linha do processo de vacinação.
Tem sido, de facto, desafiante enfrentar a pandemia e os
estorvos que vem causando.
Sem se perceber ainda com nitidez os desenvolvimentos
e, na melhor das hipóteses, um desfecho breve para este
problema global, vê que as metas estabelecidas pela ONU,
assentes no tripé 95-95-95, serão atingidas em 2030?
É um desafio muito grande, claro que sim. Embora eu seja
muito otimista. Em tudo. Se nós conseguimos em 2020
ultrapassar a meta dos 90-90-90, temos pessoas muito
capazes para voltar a ser bem-sucedidos. Por vezes,
faltam-nos meios e recursos. Mas, a avaliar pelas provas dadas,
estou convencida de que em 2030 chegaremos aos ou para
lá dos 95-95-95. Porque não? A APECS está aqui. Seja com
esta Direção, seja com outra, temos de pensar, não no nosso
umbigo, não na nossa imagem; mas em continuar a privilegiar
a necessidade da pessoa infetada. Tudo faremos em prol desse
indivíduo, onde quer que ele esteja. Vamos conseguir.
Com a evolução terapêutica registada, com outro olhar
sobre o futuro, acredita em melhores tempos para quem
vive (e convive) com o VIH/SIDA?
Acredito. Pela evolução que a infeção por VIH conheceu em
trinta e poucos anos, e sabendo nós que não será fácil atingir
o vírus sem uma vacina, ela está em desenvolvimento – e, por
certo, há de chegar. Até lá, devemos frisar que, em termos
terapêuticos, os indivíduos com infeção que acompanhamos
estão bem controlados. Basta ver os trabalhos desenvolvidos
e que foram mostrados nos nossos últimos três congressos.
Vale por dizer que a evolução continua a registar-se, estando
iminente o surgimento de novos fármacos, abordagens
terapêuticas administradas de dois em dois meses – por
exemplo, com um injetável –, entre outras. Importa realçar
que não estamos perante uma questão de eficácia; reafirmo
que as infeções estão controladas. Mas, naturalmente, nós
ousamos ir sempre mais além, queremos ainda melhores
opções, soluções robustas de mais cómoda administração.
Para que o doente ou, na definição mais contemporânea, a
pessoa que vive com o VIH/SIDA, quase não dê conta de que
está a ser tratada. Portanto, o desenvolvimento continua. E pela
rapidez da ciência, estou em crer que havemos de chegar à
cura. Daí, também, a minha reiterada convicção de que a meta
dos 95-95-95, baseada no caminho que temos seguido e na
experiência adquirida, é para conseguir.
E quando chegar a hora de passar o testemunho a outros
pares, às novas gerações que dirão presente, o que gostaria
de lhes entregar de mais precioso do seu trabalho ao
serviço da APECS?
Eu diria que estes trinta anos foram difíceis. Mas conseguimos.
Deixámos o caminho aberto, para que seja utilizado da melhor
forma; para que a pessoa que vive com VIH positivo beneficie
de tudo aquilo a que tem direito. A sua medicação, o seu
bem-estar, a sua qualidade de vida. Tudo isto convoca os
novos colegas a trabalhar. A batalhar. Vejam a APECS como
uma associação científica que estará ao lado de todos os
profissionais de saúde que lidam com esta patologia e a
trabalhar em prol do utente.
Sabemos que não será fácil
atingir o vírus sem uma vacina,
ela está em desenvolvimento
– e, por certo, há de chegar