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E os números, as metas, as novas fasquias levantadas
pelas Nações Unidas? Como vê o caso português face
ao cumprimento dos novos objetivos?
Temos muito trabalho pela frente, muito que andar para
lá chegarmos. É preciso diagnosticar, é preciso tratar. E
os indivíduos que estão a ser tratados têm de aderir. Não
há hipótese de alcançarmos tais objetivos se escolhermos
outro caminho. É preciso notar que há populações muito
complicadas, que continuam a infetar-se por falta de
cuidado; temos de trabalhar – e muito – essa parte;
acresce que temos inúmeras pessoas diagnosticadas, que
foram seguidas, mas num indeterminado momento e por
variadas razões, deixam de o ser, perdem o seguimento.
A APECS também existe para saber – ou procurar saber
– onde estão e quem as trata, os respetivos serviços...
Ou seja, devemos tudo fazer para criar condições no
terreno que nos permitam ir resgatar esses doentes. Por
isso, cabe à APECS articular-se muito bem com outras
associações e entidades, incluindo ONG Organizações
não Governamentais, para que nos ajudem a cumprir esta
missão. Temos de trazer os doentes de volta à terapêutica
e aos cuidados de saúde.
Olhar para esta realidade sem reservas, nem tabus,
considerando genericamente a sociedade portuguesa,
continua, até pelas considerações já feitas, a desassossegar
o seu Grupo de Trabalho na Direção da APECS, com a
responsabilidade do “Modelo de Apoio Alargado às pessoas
que vivem com VIH”?
Retomando o tema, é verdade que isso nos inquieta. Porque,
insisto, continua a verificar-se uma marginalização, não
tanto pela doença em si, mas particularmente pela relação
– familiar, profissional, com os amigos – que se estabelece
ou é suscetível de se estabelecer com o indivíduo infetado.
Por outras palavras, o estigma resulta, acima de tudo, da
incerteza sobre a forma como essa pessoa terá contraído
a doença, o que indicia comportamentos repreensíveis. Há
muitos infetados que não estão nesse tipo de grupos, mas a
sociedade continua a ver desvios. Eu, própria, tenho doentes
com muito receio que se saiba da sua condição, que sejam
descobertos na comunidade onde vivem. Por si, pelos filhos e
pela família, são vários os casos de pessoas que residem em
outras cidades, e que preferem vir cá à consulta. Para que
não se saiba…
Imagine um autorretrato da APECS. Que legenda colocaria?
Congregamos várias realidades do País numa só. E tentamos
melhorá-la através da conjugação da nossa experiência e do
nosso conhecimento.
A APECS vale e deve valer,
cada vez mais, pelo seu olhar
plural – e conhecedor – dos
problemas reais que acontecem
em Portugal e aos portugueses.
Problemas, falando de nós
enquanto País, envolvendo
novos fármacos, novas práticas
e todos os procedimentos
do seguimento desta doença