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É imperativo…
Sem dúvida. A vontade política tem de existir para concretizar
o financiamento oficial. Estamos a falar de saúde pública.
Vontade, financiamento e estratégias. E estas são tão diferentes,
consoante os grupos e as origens. Temos de identificar meios,
reavaliar procedimentos e avançar. Não podemos perder
tempo. E, porventura, é preciso encontrar fontes alternativas de
financiamento. A sociedade em geral, as ONG Organizações não
Governamentais… O apoio conjunto, articulado e abrangente,
deverá chamar a si os municípios, as organizações locais
– temos todos de trabalhar para eliminar o VIH.
Falou em diferentes estratégias, em diversidade de riscos.
Não convirá reforçar que somos todos um grupo, um
universo de risco?
Com certeza. O risco é de todos nós. É evidente que temos
de ter a noção de prevalências e comportamentos diferentes,
grupos e origens, locais tão diversos. E para conseguirmos
atingir todos, não basta uma campanha, um programa isolado
de televisão, uma presença pontual nos novos média. A
propósito dos trinta anos da APECS, este caminho é bem o
exemplo de um trabalho a longo… muito longo prazo.
Está, pelo menos, há onze anos neste combate institucional
e, com responsabilidades de topo, desde 2018 como
presidente da APECS. De que forma sentiram, no vosso
campo específico, o impacto da COVID-19?
A nossa atividade esteve praticamente parada. Fizemos
um workshop sobre COVID-19 e infeção por VIH; é certo
que o online funcionou, tivemos a preocupação de perceber
o impacto entre as pessoas infetadas, promovemos uma
partilha de experiências com as comunidades, no sentido
de nos focarmos em ultrapassar as limitações. Ficou por
realizar o Congresso Nacional VIH/SIDA, e, de facto, do
ponto de vista da atividade científica, fomos muito atingidos.
Mas houve aprendizagem e lições a tirar, que no fundo
aproveitam à nossa atividade de prestação de cuidados de
saúde. Percebemos, por exemplo, que há pessoas que gostam,
de quando em vez, de serem consultadas à distância. O
que significa que podemos – e devemos – conciliar o apoio
presencial com as consultas online.
A APECS sempre deu e
continuará a dar o melhor que
puder – e souber – para cumprir
um desígnio que não é exclusivo
de ninguém. Cabe a todos.
E a cada um de nós.
Associações e sociedades
médicas e científicas,
especialistas, políticos, cidadãos
– o mundo inteiro: o VIH/SIDA
Infere-se, percebe-se em vários exemplos o seu cunho
pessoal e o aporte diferenciador – e congregador – da
sua equipa no desempenho das respetivas competências
na APECS. Num percurso que começou ainda antes, que
mensagem gostaria de deixar a tantos que, ao longo destes
trinta anos, têm contribuído para esta missão, no sentido
mais autêntico da palavra?
Estou sempre a dizer coisas como “lembrem-se de onde
viemos”. Não me canso de referir a luta que tivemos de
travar para chegarmos aqui. E não nos podemos esquecer
que as coisas não foram fáceis. Houve um envolvimento
muito grande dos que estiveram antes de nós, para
conseguir priorizar a luta contra o VIH. E aprendemos,
naturalmente, muito com os que ficaram e nos honraram
com a passagem do seu testemunho.
Vamos olhar em frente. E, tanto quanto a sua imaginação
avisada permitir alcançar, o que vê ao pensar nas novas
gerações que um dia vão assumir os desafios da APECS?
A relação que temos com as pessoas que seguimos, no quadro
do VIH/SIDA, é fundamental para o resultado de tudo o que
fazemos. E, independentemente do tratamento otimizado, de
dispormos de mais recursos, a relação profissional de saúde
– a pessoa infetada – é o que faz a diferença. O que pretendo
deixar aos mais jovens é que é imperioso manter esta relação.
Não nos podemos esquecer disto.