
Temos de perceber que essas pessoas mais velhas
não tiveram contacto com o VIH. E criaram a ideia de
uma doença de minorias, dos toxicodependentes, dos
homossexuais, de algo que tem a ver apenas com estes
grupos de risco; e ainda hoje se acham imunes, continuam a
ter relações sem proteção, muitas vezes com desconhecidos
– e essa realidade mantém-se. Não é a sua realidade, nem
assim é considerada pelo sistema de saúde. Ou seja, se
formos ver, é muito raro pensar-se em VIH num indivíduo
com sessenta anos ou mais. Não faz parte do nosso
diagnóstico. Sucede que essas pessoas já foram muito mais
novas; são do tempo em que já existia a infeção, que, como
se sabe, pode durante anos, não dar sintomas. O sistema
de saúde falha, principalmente, ao não pedir mais vezes
testes a pessoas mais velhas. E estas falhas devem-se,
sobretudo, à ausência de comunicação, às mensagens que
saíram, como já assinalámos, da primeira linha das atenções
mediáticas.
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E a tal ‘solução milagrosa’, a PrEP profilaxia
pré-exposição, que comentário lhe suscita?
A PrEP é fundamental para evitar a infeção num determinado
tipo de pessoas que está ou se vai colocar em risco – e nós
podemos evitar que se torne em infeção. Não é um milagre.
Não é para toda a gente, nem para toda a vida. Mas é um
método com o devido enquadramento, numa conjugação
final, para controlar a epidemia. Qualquer pessoa que tenha
uma doença crónica sabe como é difícil manter o tratamento.
Ninguém gosta de o fazer eternamente. E o que nós estamos a
pedir a estas pessoas – algumas já nascidas infetadas – é que
mantenham uma adesão perfeita à terapêutica. Mas é quase
impossível. Temos de dizer a estas pessoas que, ao saírem do
seu plano, estão a colocar outras em risco. Há que as educar.
Educação para a saúde é a ideia, o conceito, o compromisso.
Alargar o tratamento a toda a
gente é um passo que, embora
dado muito recentemente,
representa um ponto de viragem
absoluta da pandemia (hoje
epidemia) do VIH/SIDA
Com o saber do trabalho feito, a experiência, os resultados,
há razão para sermos ambiciosos? O ano de 2030 está aí
à porta e, depois de superado o triplo 90-90-90, vamos
conseguir alcançar a percentagem agora mais ambiciosa
traçada pelas Nações Unidas, os tais 95-95-95?
Vamos ter de ir à procura desses 5% que faltam. Tudo isso
envolverá muito trabalho, desde logo porque esse número
representa as pessoas que não chegam aos hospitais, que
não estão no circuito do sistema de saúde. Há que criar novas
soluções, ir à procura dos que não estão diagnosticados. Mas é
preciso financiamento para resolver o problema. Este processo
não pode parar. E a nossa batalha está de longe de estar ganha.